Última hora:Sporting em apurros:Rui Borges precisa de,

Coragem o treinador do Sporting tem, assume o risco de mudar, de meter o seu cunho. Inteligência também mostrou ter quando na época passada voltou atrás na intenção e com isso ganhou a dobradinha. Agora tem tempo para a mudança mas não a pode fazer sozinho nem de um dia para o outro. Este é o ‘Nunca mais é sábado’, espaço de opinião de Nuno Raposo
Aquestão levantou-se logo uma vez terminada a temporada em festa, dupla festa pela conquista dum bicampeonato inédito em 70 anos e duma dobradinha também original em mais de 20: iria Rui Borges mudar o sistema para 2025/2026? A resposta está dada, vai — assim têm trabalhado os leões nesta pré-época, isso saía dos jogos de preparação até aqui à porta fechada e o mesmo foi confirmado com as portas abertas para o encontro com o Celtic, que os escoceses venceram por 2-0 no Estádio Algarve.
Foram quase cinco anos de conforto numa ideia criada por Ruben Amorim, de sucesso, que o eternizou na galeria de vencedores do Sporting. Mas Rui Borges tem outra ideia para as suas equipas e ao começar a temporada a trabalhar os seus em Alcochete apostou nela com convicção, mesmo sabendo que cedo lhe podem apontar o dedo se começar, ou parecer começar, a correr nem mal.
Escrevi aqui, há um mês, que acreditei que Rui Borges não mudaria. Que a inteligência que teve na época passada ao voltar atrás, do 4x2x3x1 para o 3x4x3, foi chave para o sucesso e que o treinador não se importou nada que pudessem dizer que a sua equipa não era inteiramente sua, que era também de Amorim – pouco lhe importou e fez bem nisso.
Quando chegou ao Sporting, no final de dezembro de 2024, com apenas três treinos meteu a equipa a jogar com linha defensiva de quatro no dérbi da estreia com o Benfica. Ganhou. Assim ficou durante 12 jogos, cinco vitórias, cinco empates e duas derrotas — Leipzig e Dortmund na Champions. A equipa mantinha-se na liderança com os encarnados à perna mas sem estar confortável na nova ideia e por isso Rui Borges ouviu os jogadores e aceitou voltar atrás por ver que era assim que a equipa mais confortável estaria e mais próxima poderia ficar de chegar ao bi. O resultado foi o que se viu.)
Agora terá tempo para trabalhar a sua ideia. Continuou a acreditar que seria melhor manter o sistema. Também seria mais fácil manter o sistema. Torço o nariz mas ao mesmo tempo admiro a coragem do técnico transmontano e a convicção de que trabalhando a ideia com tempo a pode implementar com sucesso. Mas vai precisar de ajuda.
Primeiro da ajuda dos jogadores, os mesmo que o convenceram a voltar atrás na época passada. Que acreditem na ideia, que a desempenhem com convicção e que estejam abertos à mudança, sobretudo jogadores como Pedro Gonçalves ou Trincão, estrelas cintilantes da companhia que até poderão pensar que têm a perder; ou Hjulmand, capitão que passa a ter de defender uma zona mais alargada na proteção à baliza; ou os centrais que passam a ser dois numa linha de quatro…
Precisa também da ajuda da administração, que lhe dê o extremo-esquerdo de pé direito prometido e que há tanto tempo anda à procura nos mercados.
Precisa dos adeptos, da paciência dos adeptos que já se sabe são capazes de apontar o dedo ao menor sinal que interpretem como fraqueza.
Dos jogadores acredito que terá esse apoio, pois se na temporada passada o treinador os soube ouvir e mudar para o que lhes era mais confortável agora saberão ajudá-lo na nova ideia. Da administração também terá de ter, vão chegar reforços. Dos adeptos também, porque os sucessos dos últimos anos fizeram os sportinguistas compreender a importância da estabilidade e de não entrar em histeria por nada, como no passado acontecia com frequência.
Rui Borges precisa de ajuda, de coragem e que se preciso for voltar outra vez atrás ou encontrar outras soluções que não o veja como um sinal de fraqueza. Foi essa inteligência que o fez ganhar na época passada…