Sérgio Conceição no,

E quem disse que no futebol, como na vida, não há sempre espaço para mais um capítulo inesperado? O amor é eterno, sim, mas só enquanto dura… ‘Hat trick’ é o espaço de opinião semanal do jornalista Paulo Cunha
- Heróis, vilões, traições, redenções. Se um jogador ou treinador com passado e carisma numa equipa mudam de ares para representarem um rival — em Portugal, noutro país ou até em Marte na liga dos marcianos — aqueles que lhes gabavam qualidades rapidamente esticam o indicador para apontar defeitos. Onde ontem se ouviam aplausos, hoje sobram apupos. O que se alterou? A camisola, apenas o emblema que defendem. Para os adeptos, o clube é sagrado. Os jogadores, por muito que brilhem, são passageiros prontos a sair numa paragem à frente. Todos são iguais, mas, sim, há uns mais iguais que outros.
Numa viagem pela infância, direi sempre, por ordem alfabética, para não ferir eventuais suscetibilidades dos que frequentam o lado negro das redes socais, o João Pinto do FC Porto, o Manuel Fernandes do Sporting ou o Nené do Benfica, entre outros (escassos) exemplos de futebolistas de uma só paixão. Quando os artistas dos relvados se confundem com a identidade dos clubes deixam de ser só profissionais e tornam-se símbolos. Idolatrados por uns, odiados por outros.
A revista Sábado noticiou que Luís Filipe Vieira, suposto sexto candidato às eleições de 25 de outubro para a presidência do Benfica, teria um acordo com Sérgio Conceição. Primeiro estranha-se, veremos se depois se entranha. Tudo a seu tempo…
Mais que um enredo garantido de telenovela mexicana misturado com o melhor daquelas séries topo de gama cheias de reviravoltas que nos prendem às plataformas de streaming horas a fio, imaginar todo o processo que conduziria Sérgio Conceição a assumir o cargo de treinador do Benfica seria a prova de que a realidade, afinal, supera a ficção. O homem com ácido desoxirribonucleico à FC Porto em doses industriais, o famoso ADN portista que tanto contribuiu para grandes conquistas dos dragões… a comandar um Benfica à Benfica seria, no mínimo, fascinante.
Ouvir «oh Conceição, oh Conceição, oh Conceição faz do Benfica campeão», cantado na Luz durante um clássico, entusiasmo benfiquista pontuado agora pelos assobios dos portistas; ou escutar da boca do técnico que terminou a temporada no Milan um «não basta ter contrato para se jogar no Benfica»; ou ver Otamendi a dirigir-se à linha lateral junto ao banco para tomar nota das indicações táticas do novo timoneiro, após épocas a fio do lado contrário da barricada… Isso mesmo, a realidade a superar a ficção.
Mas nunca digam nunca ou… jamais, neste caso se forem ministros, porque em futebol tudo pode acontecer. Só neste cantinho à beira-mar plantado lembro-me de Jaime Pacheco e Sousa trocarem FC Porto por Sporting e Paulo Futre fazer o caminho inverso; Rui Águas e Dito saírem do ninho da águia rumo às Antas; Pacheco e Paulo Sousa atravessarem a Segunda Circular da Luz para Alvalade e João Vieira Pinto ficar a meio da viagem antes de voltar atrás, trajeto que retomaria após ser dispensado por Vale e Azevedo; João Moutinho do cesto das maçãs verdes e brancas com bicho para o pomar do Dragão; Maxi Pereira dos encarnados para os azuis e brancos; Jorge Jesus do banco do Benfica para o do Sporting…